segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Obstipação intestinal e impactação fecal

Sei que este tema é um pouco incómodo devido ao "ingrediente" aqui tratado: as fezes; mas infelizmente esta é uma doença que afecta mais de metade da população mundial durante algum período da sua vida, podendo ocorrer em qualquer idade.
Só em Portugal, o tratamento da obstipação é responsável por mais de 50.000 consultas médicas por ano.
Estou a lidar bem de perto com esta doença através de um dos meus filhos e desengane-se quem pensa que esta é uma doença fácil de tratar.
Há duas semanas, dei com o meu filho deitado no chão do quarto a chorar muito com dores de barriga e de imediato o levei a um centro de saúde com atendimento permanente.
Fizeram-lhe um raio x simples ao abdómen. Quando veio o resultado, o médico que primeiro atendeu o meu filho, perguntou-me: "Para que hospital quer ir?" Caiu-me tudo!! Fiquei especada sem conseguir interiorizar o que aquilo sugeria.
Fez uma cartinha com a transferência para um hospital. Lá chegados, o médico das urgências que o viu, também ficou assustado quando viu o raio x, tinha impactação fecal, os intestinos estavam cheios de fezes e ainda para complicar mais, tinha muitos gazes acumulados. Não havia ele de ter dores insuportáveis!!!????
Neste hospital deram-lhe um clister para ver se "amansávamos" o problema por ali sem necessidades de um tratamento mais invasivo.
Mal lhe deram o clister, o meu filho foi a correr para a casa de banho. Foi tiro e queda!
No entanto, aconselharam-me a ir a uma consulta de gastroenterologia e até me deram o nome de uma médica especialista.
 Na semana passada, esta médica mandou fazer outros exames complementares de diagnóstico, como as análises clínicas ao sangue e às fezes e um Teste de Hidrogénio Expirado com Lactose, para se saber a tolerância à lactose, pois, por vezes, a obstipação pode estar associada à intolerância à lactose (leite e seus derivados).
Embora saibamos o que ele tem, temos de saber o porquê de o ter e como prevenir e evitar que volte a ter. É muito doloroso e incómodo, principalmente para uma criança.


O que é a obstipação? 
Uma pessoa saudável apresenta um trânsito intestinal razoavelmente regular e as fezes são eliminadas do organismo com facilidade, sem muito esforço ou desconforto.
No cólon saudável, uma parte da água é extraída das fezes, mas se for demasiada a água a ser extraída, as fezes permanecem tempo excessivo no cólon, desidratam e endurecem.
Na obstipação, a frequência das dejecções é menor do que a esperada e aí as fezes tornam-se duras, secas e difíceis de expelir.
Alguns dos factores que mais contribuem para a obstipação, podem incluir uma alimentação pobre em fibras, pois são necessárias cerca de 25 a 30 g de fibras diariamente para amolecer as fezes e normalizar o trânsito intestinal. As fibras podem ser encontradas nos cereais, nas ervilhas, favas, feijão-frade, amêndoas com casca e em alguns frutos como o maracujá, maçãs, pêras, tangerina, uvas, morangos, etc.
Outros dos factores são a ingestão insuficiente de líquidos para ajudar a prevenir a desidratação e o endurecimento das fezes. A água, sumo, leite são alguns desses líquidos, mas a sopa e guisados também o têm.
O exercício físico regular também é necessário para promover a contracção normal dos músculos da parede intestinal.
Ignorar a vontade de defecar ou adiar a ida à casa de banho é outro factor muito importante, pois se a pessoa evacuar logo que sente vontade, reforça o reflexo nervoso normal, o que ajuda na eliminação das fezes com mais facilidade. Às vezes a vontade é ignorada por não termos acesso a um wc, mas este adiamento repetido leva à perda do automatismo de defecar, conduzindo a problemas de obstipação.
O uso prolongado de laxantes torna o intestino dependente destes medicamentos para o seu regular funcionamento.
Quando a pessoa sente dor ou desconforto anal, pode, por vezes, reprimir a vontade de defecar, acabando também por desenvolver obstipação.
As manifestações clínicas incluem: menos de três dejecções por semana; fezes duras associadas a defecação dolorosa ou difícil; necessidade de um esforço excessivo para defecar; sensação da dejecção não ter sido completa.
Ocasionalmente, a obstipação crónica evolui para um impacto fecal, que consiste na obstrução do intestino grosso (cólon) por uma massa de fezes que já não consegue ser impulsionada pelos movimentos intestinais. O impacto fecal pode causar dores e vómitos e uma pessoa com este problema, pode precisar de um tratamento urgente ou até mesmo de internamento hospitalar.
Esta massa de fezes chama-se fecaloma.
Os sintomas da impactação fecal incluem: fezes líquidas que passam em volta da massa de fezes impactadas e podem ser confundidas com diarreia (falsa diarreia); dores abdominais, especialmente após as refeições; vontade persistente em defecar; náuseas e vómitos; dores de cabeça; falta de apetite e perda de peso; mal-estar geral; se o problema não for tratado, pode surgir desidratação, taquicardia, respiração rápida, agitação, febre, confusão mental e incontinência urinária.
Podem ser tomadas medidas preventivas tais como um aumento da ingestão de líquidos e do conteúdo de fibras na dieta e a prática de exercício físico.
Se estas medidas não forem eficazes, deve consultar-se um médico.
Se para além da obstipação. apresentar sangue nas fezes, dores abdominais ou distensão abdominal, deve procurar imediatamente um médico.
Se os sintomas indicarem a possibilidade de existir um impacto fecal, o médico poderá confirmar este diagnóstico através de um raio x simples do abdómen, análises ao sangue e outros exames.
As pessoas com idade igual ou superior a 50 anos apresentam uma maior probabilidade de desenvolverem pólipos ou cancro do cólon. A obstipação que aparece de novo pode ser um sintoma dessas doenças, pelo que o seu médico poderá mandar fazer uma colonoscopia que examina todo o cólon.
Se apresentar sintomas desconfortáveis de obstipação, é razoável recorrer a um tratamento com laxantes para evacuar, mas sempre por indicação médica.
Os clisteres também são usados no tratamento da obstipação e estão à venda em farmácias podendo ser adquiridos sem receita médica.
Fonte: Harvard Medical School Portugal (www.hmsportugal.wordpress.com)
Para informação adicional:
Associação Portuguesa de Médicos de Clínica Geral (www.apmgf.pt)
Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (www.spg.pt)
Sociedade Portuguesa de Endoscopia Digestiva (www.sped.pt)

Hoje já fui com o meu filho fazer análises ao sangue e às fezes e vou aguardar ansiosamente pelos resultados. Estou também à espera da resposta de duas clínicas para fazer o Teste de Hidrogénio Expirado com Lactose, pois nem todas as clínicas o fazem. Perguntei a quatro clínicas se faziam o exame; duas já me disseram que não, aguardo resposta das outras duas, enquanto procuro outras clínicas.
Gostaria de fazer o exame antes do Natal, mas já estou a ver que não vai ser possível.
Por falar em Natal, lembro-me que no ano passado, por esta altura, este mesmo filho já me deu preocupações quando lhe foi diagnosticada Mononucleose Infecciosa!!
Mas desta outra doença falarei num outro post.


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